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Leishmaniose Canina: Sintomas, Tratamento e Prevenção
Doenças

Leishmaniose Canina: Sintomas, Tratamento e Prevenção

13 min de leitura

Kenny Cardoso

Veterinária Geral

A leishmaniose visceral canina é uma doença parasitária causada pelo protozoário Leishmania e transmitida por insetos. É uma doença de grande importância veterinária devido à sua alta prevalência e ao impacto significativo na saúde dos cães.

A leishmaniose visceral canina é endêmica em várias regiões do mundo, especialmente em países tropicais e subtropicais. Estima-se que existam cerca de 1 milhão de novos casos de leishmaniose visceral canina a cada ano.

No Brasil, por exemplo, a doença é considerada um problema de saúde pública e afeta principalmente as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Continue a leitura para saber mais.

O que é a leishmaniose canina?

A leishmaniose canina é uma doença causada pelo parasita Leishmania, transmitido por meio da picada de um vetor conhecido como flebotomíneo, que são pequenos insetos parecidos com s. Trata-se de uma doença infecciosa não contagiosa que afeta diversos animais silvestres e domésticos, sendo o mais relatado em cães e que pode ser transmitida para humanos em casos mais raros.

Existem duas formas principais de leishmaniose canina: a forma visceral e a forma cutânea. Na forma visceral, conhecida como Leishmaniose Visceral Canina (LVC), o parasita se multiplica nos órgãos internos, como o fígado, o baço, a medula óssea e os gânglios linfáticos.

Já na forma cutânea, também conhecida como Leishmaniose Tegumentar, o parasita se multiplica na pele e nas mucosas, causando lesões cutâneas como úlceras, feridas e nódulos. Essa forma geralmente é menos grave e mais localizada, mas pode causar desconforto e dor para o animal.

A LVC, também conhecida popularmente como Calazar, é bem mais comum e mais grave do que a forma cutânea, tendo maior importância em Saúde Animal e Pública. Inclusive, geralmente quando as pessoas falam em Leishmaniose Canina estão se referindo a LVC, por isso focaremos nela daqui para frente.

O parasita Leishmania é um protozoário que se desenvolve no interior das células do sistema imunológico do hospedeiro. Existem diferentes espécies de Leishmania, como a Leishmania infantum, Leishmania chagasi, Leishmania donovani, Leishmania braziliensis e a Leishmania amazonensis. Sendo que as espécies Leishmania infantum, Leishmania chagasi e Leishmania donovani as responsáveis por causar a Leishmaniose Visceral Canina.

O vetor transmissor da leishmaniose visceral canina é o flebotomíneo, também conhecido como mosquito-palha ou birigui. Esses insetos são muito pequenos, medindo cerca de 2 a 3 mm, e são mais ativos durante o crepúsculo e a noite. Eles se alimentam do sangue de animais infectados e, ao picar um cão infectado, podem adquirir o parasita e transmiti-lo para outros cães ou até mesmo para humanos.

Como ocorre a transmissão da doença?

A transmissão da leishmaniose visceral canina ocorre quando um flebotomíneo infectado pica um cão saudável. Os parasitas presentes na saliva do vetor entram na corrente sanguínea do cão e se espalham pelo organismo, multiplicando-se nas células do sistema imunológico. Além disso, a doença também pode ser transmitida de mãe para filhote durante a gestação ou por meio da amamentação.

É importante ressaltar que a leishmaniose visceral canina não é transmitida diretamente de cão para cão, apenas por meio do vetor. No entanto, cães infectados podem servir como reservatórios do parasita, contribuindo para a manutenção do ciclo de transmissão da doença.

Sintomas da leishmaniose visceral canina

Sintomas cutâneos

Incluem lesões de pele, como feridas, úlceras, crostas e descamação. Essas lesões geralmente aparecem ao redor do focinho, orelhas, extremidades e região genital do animal. Além disso, os cães com leishmaniose podem apresentar perda de pelos, especialmente nas áreas afetadas por lesões cutâneas. A pele também pode ficar espessa e escamosa. O animal ainda pode apresentar crescimento exacerbado das unhas e coxins (almofadinhas das patas) ásperos.

Sintomas sistêmicos

São mais generalizados e podem afetar diversos órgãos e sistemas do corpo do animal. Alguns dos sintomas mais comuns incluem perda de peso, apatia, fraqueza, falta de apetite e febre. Os cães também podem apresentar linfonodos aumentados, o que pode ser observado como inchaços palpáveis sob a pele. Além disso, a leishmaniose visceral canina pode causar anemia, resultando em mucosas pálidas e gengivas avermelhadas.

Sintomas viscerais

Estão relacionados principalmente aos órgãos internos, como o fígado, baço e rins. A doença pode causar hepatomegalia (aumento do fígado), esplenomegalia (aumento do baço) e nefromegalia (aumento dos rins). Essas alterações podem ser detectadas por meio de exames veterinários, como palpação abdominal.

Além dos sintomas mencionados acima, a leishmaniose visceral canina também pode levar a outros problemas de saúde, como distúrbios oculares, como uveíte (inflamação da úvea) e ceratite (inflamação da córnea). Também pode ocorrer claudicação (manqueira) devido a inflamação nas articulações.

É importante ressaltar que nem todos os cães infectados pela Leishmania desenvolvem sintomas clínicos da doença. Alguns cães podem ser portadores assintomáticos, o que significa que eles estão infectados, mas não apresentam sinais visíveis da doença.

Em caso de suspeita de leishmaniose visceral canina, é fundamental procurar um médico veterinário para realizar exames específicos, como testes sorológicos e análise de amostras de sangue, para confirmar o diagnóstico.

Diagnóstico da leishmaniose visceral canina

O diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento eficaz e controle da doença. Existem diferentes métodos de diagnóstico da leishmaniose visceral canina, que podem ser combinados para um resultado mais eficaz. Confira a seguir alguns deles.

Testes sorológicos

São amplamente utilizados para o diagnóstico da leishmaniose visceral canina. Estes testes detectam a presença de anticorpos específicos contra o parasita no sangue do animal. Dentre os testes sorológicos, os mais comuns são:

  • Teste de imunofluorescência indireta (IFI);
  • Ensaio imunoenzimático (ELISA);
  • Teste rápido.

Esses testes são rápidos, simples e de baixo custo, mas podem apresentar resultados falso-positivos em animais que foram vacinados contra a doença ou que tiveram contato com o parasita sem desenvolver a doença.

Exames laboratoriais

Também são utilizados para o diagnóstico da leishmaniose visceral canina. O hemograma completo pode revelar anemia, trombocitopenia e leucopenia, que são alterações comuns em cães infectados com o parasita.

Além disso, a bioquímica sanguínea pode mostrar alterações nos níveis de proteínas, enzimas hepáticas e renais. A citologia de linfonodos e medula óssea também pode ser realizada para detectar a presença de formas amastigotas do parasita.

Técnicas de detecção do parasita

Estes são métodos mais específicos para o diagnóstico da leishmaniose visceral canina. Confira a seguir algumas das opções mais utilizadas:

  • Biópsia de pele: é um dos métodos mais utilizados, onde uma pequena amostra de pele é retirada e examinada ao microscópio para identificar a presença de amastigotas.
  • Aspiração de linfonodos: também pode ser realizada para detectar o parasita.
  • Reação em cadeia da polimerase (PCR): é uma técnica molecular que amplifica o DNA do parasita, permitindo a sua detecção em amostras de sangue, tecidos ou fluidos corporais. A PCR é altamente sensível e específica, mas requer equipamentos e técnicas especializadas, o que pode limitar a sua utilização em algumas regiões.

A escolha do método de diagnóstico depende da disponibilidade de recursos e equipamentos, bem como da sensibilidade e especificidade desejadas. O diagnóstico precoce e preciso é essencial para o tratamento adequado e controle da doença.

Tratamento da leishmaniose

O tratamento da leishmaniose visceral canina é complexo e deve ser prescrito por um médico veterinário, pois apenas esse profissional tem conhecimento para avaliar o quadro do animal e prescrever o tratamento adequado. Geralmente o tratamento da LVC envolve uma combinação de medicamentos, terapias complementares e cuidados de suporte.

Medicamentos

Os medicamentos são a principal forma de tratamento para a leishmaniose visceral canina. Existem várias opções disponíveis, incluindo medicamentos:

  • Antiparasitários: como a alopurinol e o miltefosine, são usados para matar ou inibir o crescimento dos parasitas no organismo do cão.
  • Imunomoduladores: tais como o interferon e a pentoxifilina, são utilizados para modular a resposta imunológica do cão e reduzir a inflamação causada pela infecção.
  • Antibióticos: como a doxiciclina, são usados para tratar infecções secundárias causadas pela leishmaniose.

Terapias complementares

Além dos medicamentos, existem terapias complementares que podem ser utilizadas no tratamento da leishmaniose visceral canina:

  • Acupuntura: uma terapia alternativa que pode ajudar a aliviar a dor e a inflamação associadas à doença.
  • Fitoterapia: também pode ser utilizada para fortalecer o sistema imunológico do cão e ajudar na recuperação.
  • Fisioterapia: também pode ser benéfica para cães com lesões articulares ou musculares causadas pela doença.

Cuidados de suporte

Os cuidados de suporte também desempenham um papel importante no tratamento da leishmaniose visceral canina. Por isso, é essencial:

  • Fornecer uma dieta equilibrada e de alta qualidade para fortalecer o sistema imunológico do cão.
  • Manter uma boa higiene e limpeza do ambiente para reduzir a exposição aos flebotomíneos transmissores.
  • Monitorar regularmente a saúde do cão, incluindo exames de sangue para verificar a eficácia do tratamento e detectar possíveis complicações.

É importante ressaltar que o tratamento desta doença pode ser longo e exigir paciência e comprometimento por parte do proprietário. Além disso, embora o tratamento controle a doença, não há cura definitiva para a leishmaniose visceral canina. Portanto, é fundamental adotar medidas preventivas, como o uso de repelentes de insetos e a vacinação, para reduzir o risco de infecção.

Prevenção da leishmaniose visceral canina

A leishmaniose pode causar sérios problemas de saúde nos cães, incluindo lesões de pele, perda de peso, anemia, problemas renais e até mesmo a morte, além de poder ser transmitida para humanos. Por isso, é importante adotar medidas de prevenção para proteger a transmissão dessa doença.

Uso de repelentes

Uma das medidas de prevenção mais eficazes é o uso de repelentes. Existem no mercado diversos produtos repelentes específicos para cães que podem ser aplicados na pele do animal. Esses repelentes atuam como uma barreira física contra os insetos como os flebotomíneos, impedindo que eles se aproximem do cão e o piquem. É importante ressaltar que esses repelentes devem ser aplicados regularmente, de acordo com as instruções do fabricante.

Uso de coleiras

Outra medida de prevenção é o uso de coleiras impregnadas com inseticida. Essas coleiras liberam substâncias repelentes que afastam os insetos, diminuindo o risco de picadas. O uso dessas coleiras é seguro para os cães e pode ser usado como uma medida adicional de proteção, principalmente em áreas de maior incidência da doença.

Vacinação

A vacinação também desempenha um papel importante na prevenção da leishmaniose visceral canina. Existem vacinas disponíveis no mercado que podem proteger os cães contra a doença. Essas vacinas estimulam o sistema imunológico do animal a produzir anticorpos contra o parasita, reduzindo o risco de infecção e os sintomas da doença. É importante ressaltar que a vacinação deve ser realizada conforme o protocolo recomendado pelo médico veterinário.

Medidas de manejo do ambiente

Os flebotomíneos se reproduzem em locais úmidos e com matéria orgânica em decomposição, como terrenos baldios, lixo acumulado e vegetação densa. Portanto, é importante manter o ambiente limpo, eliminando possíveis criadouros desses insetos. É recomendado também evitar passeios com os cães durante o período de maior atividade dos flebotomíneos, que ocorre ao amanhecer e ao entardecer.

A prevenção da leishmaniose visceral canina envolve uma combinação de medidas, fundamentais para proteger os cães contra essa doença grave e garantir sua saúde e bem-estar.

Controle da leishmaniose

Como vimos, a leishmaniose visceral canina é uma doença grave causada pelo parasita Leishmania, transmitido aos cães por meio da picada de flebotomíneos, também conhecidos como mosquitos-palha. Essa doença pode ser transmitida aos seres humanos e outros animais, tornando-se um problema de saúde pública.

Combate ao vetor

Para isso, é necessário reduzir a população de flebotomíneos, evitando sua proliferação. Medidas como o uso de inseticidas, telas em portas e janelas, e o uso de repelentes em cães podem ser adotadas para evitar a picada desses insetos. Além disso, é importante manter o ambiente limpo, eliminando possíveis criadouros dos flebotomíneos, como acúmulos de lixo e matéria orgânica.

Vigilância epidemiológica

É necessário monitorar a ocorrência da doença em determinadas regiões, identificando os casos e tomando medidas para evitar sua disseminação. Isso pode ser feito por meio do registro de casos em unidades de saúde, investigação epidemiológica e ações de controle em áreas endêmicas.

Educação e conscientização da população

As pessoas devem ser informadas sobre a doença, seus sintomas e formas de prevenção. É importante que os tutores e tutoras de cães estejam cientes da importância de manter seus animais protegidos contra os flebotomíneos, por meio do uso de repelentes e da vacinação. Também é necessário conscientizar a população sobre a importância de não abandonar animais infectados, pois isso contribui para a disseminação da doença.

Controle populacional de cães

A esterilização dos animais é uma estratégia eficaz para reduzir a população de cães abandonados, que são mais suscetíveis à infecção pela Leishmania e podem se tornar reservatórios da doença. Além disso, a adoção de cães de abrigos e a promoção da posse responsável são medidas que contribuem para o controle da leishmaniose visceral canina.

A adoção dessas medidas é fundamental para reduzir a incidência da doença e proteger a saúde dos cães e das pessoas.

Leishmaniose visceral canina e a saúde pública

Embora a leishmaniose seja uma doença que afeta principalmente cães, ela também representa um importante problema de saúde pública devido à possibilidade de transmissão para humanos.

A transmissão da doença para humanos ocorre quando o flebótomo pica um cão infectado e, posteriormente, pica um ser humano. Embora nem todos os cães infectados desenvolvam sintomas da doença, eles podem atuar como reservatórios do parasita, aumentando o risco de transmissão para humanos.

A presença de cães infectados em áreas endêmicas representa um risco significativo para a saúde pública.

Para controlar a disseminação da leishmaniose visceral canina em áreas endêmicas, são necessárias medidas de controle eficazes. Isso inclui o controle do vetor, ou seja, a redução da população de flebotomíneos. Isso pode ser feito através do uso de inseticidas, telas de proteção em janelas e portas, e a eliminação de possíveis criadouros, como acúmulo de lixo com matéria orgânica.

Além disso, medidas de controle em cães também são fundamentais, já que esses animais podem ser reservatórios da doença. Isso inclui o uso de coleiras repelentes, aplicação de inseticidas tópicos e vacinação. A vacinação é uma medida importante para prevenir a infecção em cães e reduzir a carga parasitária, diminuindo assim o risco de transmissão para humanos.

O diagnóstico precoce da leishmaniose visceral canina também desempenha um papel fundamental na saúde pública. A detecção precoce da doença em cães permite o tratamento adequado, reduzindo a carga parasitária e, consequentemente, o risco de transmissão para humanos. Além disso, o diagnóstico precoce em cães permite a implementação de medidas de controle mais eficazes, como a quarentena e o isolamento dos animais infectados.

A leishmaniose visceral canina é uma doença grave, de difícil tratamento e sem cura, causada pelo protozoário Leishmania. Ela é transmitida através da picada de um flebotomíneo infectado e pode afetar não apenas os cães, mas também os seres humanos.

A prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais no combate à leishmaniose visceral canina. Essas medidas são essenciais para proteger não apenas os cães, mas também os seres humanos, uma vez que a doença pode ser transmitida para ambas as espécies.

É importante salientar que apesar de ser infecciosa essa doença não é contagiosa, ou seja, o cão infectado não transmite a doença diretamente para outros cães ou para humanos. No Entanto, é essencial que os tutores e tutoras estejam conscientes dos riscos e sejam responsáveis pela saúde de seus animais de estimação, buscando informações e ajuda profissional sempre que necessário.


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Kenny Cardoso

Kenny Cardoso

Veterinária Geral

Médica veterinária pela Universidade Federal Fluminense (UFF) com mestrado em Medicina Veterinária (UFF) e Especialização em Produção Animal, Higiene e Tecnologia de Produtos de Origem Animal (UFF). MSc. Kenny Cardoso tem focado no aprimoramento acadêmico, tem paixão por animais e um amor especial pela produção e tecnologia de produtos de origem animal.

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